CLARIDADE

 

39 poemas 

(Porto, Venade, 2022-2024) 

 

1ª ediçãoQuetzal, Lisboa, Outubro 2024 

capa de Rui Cartaxo Rodrigues, a partir de The «Martha McKeen» of Wellfleet (1944), de Edward Hopper 

direcção literária de Francisco José Viegas 

 

encomendar o livro aqui. 

 

§ 


SÍLVIA SOUTO CUNHAVisão, 5.12.2024
CLARIDADE

«Poeta atentíssimo, Barreto Guimarães regressa com 39 poemas escritos, entre 2022 e 2024, no Porto, Venade e "algumas cidades estrangeiras". Do Mediterrâneo à Europa, por onde anda a "bomba obediente", o poeta alça-se a observatório da "vida autêntica". "Não percas tempo / com poesia", lança, irónico. Por tentadores que sejam o lírico mar e as estevas, ele exercita também o verso sobre a gaveta dos talheres (metáfora para a política de dois Estados na Terra Santa); o limpa-para-brisas que "só se ergue para discordar"; o espelho quebrado. "Que ocasião perdida! Isso / da democracia: parecia uma ideia / tão boa.


§


VICENTE ARAGUAS, Nordesía, Galiza, 17.11.2024
LUZ, MÁIS LUZ 

«Logo de ler a última entrega do poeta portugués, João Luís Barreto Guimarães, “Claridade” (Quetzal Editores, Lisboa, 2024) apetece intercalar parénteses no texto, cal fai o poeta nos seus poemas, para permitir segundas lecturas. Nun xogo como de bonecas rusas ou de caixas chinesas. Tamén, se cadra, para que a súa ironía ou retranca chegue mais ao fondo aínda. Porque Barreto Guimarões, médico de profesión, nado no Porto en 1967, sabe revirar os seus poemas, darlle voltas aos calcetíns que visten os seus pés, para que estes camiñen dun xeito máis confortable. E con eles os lectores que procuren na poesía sosego. 

Unha tranquilidade chea de elegância a que procura a poética deste autor, limpísima, mesmo cando se alporiza, por exemplo, contra Vladimir Vladimirovich Putin ou ironiza confrontado a ese señor Koslowskim, cando xustifi ca por que non vai á manifestación (fose esta cal fose). Que os ataques do autor de “Claridade” teñen ese valor universal que muda aa anécdotas en categorías. E categórico, cun distanciamento cáseque brechtiano ao que axudan eses parénteses, aos que me referín, que actúan a xeiito de coros. 

Estratexia coral na que abondan os humanos aínda que, mira por onde, se coe un gato. Un felino do que o seu dono aclara que: “Sou o humano/ do meu gato. Pouco falta para que fale.” Un coro mudo, neste caso, por máis que vexamos a pata do gato como entra no teclado e fai que este mude en tecladooooooooooooooo. E os que temos gato, ou partillamos o gato de quen queremos (e nos quere), sabemos como “Neruda Neruri”, un supoñer, fai por incorporarse ao texto que estamos a escribir facendo falcatruadas. 

Quero dicir que pois Barreto Guimarães aposta pola “claridade” faino, tamén, por unha poética do cotián, o que non quere dicir que entre abertamente nesa “liña clara”, ao Hergé, por exemplo, que se ten senso no “comic”, eis o caso do autor belga, perde ese misterio que debe ter a poesía se é tal. 

Caso contrario non pasa de ser un xornal, páxina de sucesos, preferentemente, ou esas cousas que se prodigan nas redes e que non pasan de poemiñas escritos por poetastros. Iso non quita, caso do poema adicado a Putin, que o autor de “Claridade”, no medio da calor do verán, fale de “A guerra medida polas colleitas”, ocupándose dos cemiterios de estatuas “no Leste de Europa (onde/ ditadores e verdugos morrem uma/ segunda vez.)”. 

E non lle falta humor ao poeta do Porto, quen remata o seu libro cos versos que lle pido prestados para poñer o ramo ao meu: “na manhá de São Joõ/ dois bébados desciam a rua/ em sonora ascholía/ interpretando a cada porta/ a toccata e fuga/ de Baco.” Por exemplo.» 

 

§ 

 

SÍLVIA SOUTO CUNHA, Visão, 14.11.2024
NAVEGAR É PRECISO – CLARIDADE, JOÃO LUÍS BARRETO GUIMARÃES 

«Como num jogo de ecos, este volume contém uma epígrafe dedicada a Zbigniew Herbert: “He wanted to be true / to uncertain clarity” (“Ele desejava ser verdadeiro / à incerta claridade” em tradução livre). É que “nem tudo precisa ser /exactamente / aquilo para que foi desenhado”, tudo é chiaro-escuro. “Não percas tempo / com poesia. Fala antes da vida autêntica (…) Fala antes com o silêncio”, avança um “manifesto” na página 34. Prémio Pessoa 2022, com quase uma vintena de livros publicados, João Luís Barreto Guimarães senta-se novamente à beira do mundo, “aberto todos os dias”, com a simples armadura da melancolia e das palavras quotidianas, mas com um lápis mais ferido de acutilância. Nestes 39 poemas cabem gaivotas e aroma a estevas, e uma “paisagem com Focaccia al formaggio spaghetti alle vongole e tiramisu”, mas mais ainda a “beleza de / um salário justo”, uma experiência de Deus chamada Vladimir Vladimirovich Putin, a bomba "obediente” que vai motivada. O “escolher ir contra a corrente / como salmão na boca de um urso.”» 

 

§ 

 

JOÃO CÉU E SILVA, Diário de Notícias, 14.10.24

DE OLHO EM DEUS

 

«Em Claridade, João Luís Barreto Guimarães regressa a perguntas com muita desfaçatez, interroga também e, principalmente, pinta breves frescos do mundo (ir)real. Como: “A / noite é automática. Já vem / de origem assim”; como: “Instruir os cães / a serem lobos e os leões a serem / gatos”; como: “Não percas tempo / com a poesia. Fala antes da vida autêntica”… Decerto, do melhor material para ler entre intervalos dos livros anteriormente referenciados porque não O esquece num dos poemas, aquele “dedicado” a Putin: “Milhões de anos / passaram e ainda temos de estar / atentos (de olho /em Deus). Não para de fazer experiências.”»

 

 

§



JORGE VAZ DIAS, Jornal de Leiria, 27.12.24

CLARIDADE

«Nasceu no Porto em Junho de 1967. Além de poeta e tradutor, é médico e publicou o seu primeiro livro em 1989, Há Violinos na Tribo.

Com mais algumas obras publicadas, sempre dedicado à poesia, desenvolveu nos últimos anos obras de grande relevância a nível nacional e internacional, destacando-se o Prémio Pessoa em 2022. Tiveram bastante impacto, Movimento (2020, Grande Prémio de Literatura DST), Aberto Todos os Dias (2023, Prémio Literário Glória de Sant’Anna) e Poesia Reunida (2023).

Uma vez mais me deixo fascinar pelo tom coloquial e de extremo cuidado ao detalhe de João Luís Barreto Guimarães, quase escatológico em certos momentos, levando-nos a viajar pelo mundo contemporâneo, como se a poesia fosse comando de bordo, e seus olhos no terreno. Ver com olhos de poeta, libertando-nos a presenciar o bem e o mal do mundo, livres da dor, mas imbuídos de empatia.

Esta claridade que nos faz deslindar que “nem tudo precisa ser exactamente aquilo para que foi desenhado. É o que a manhã trará o que mais nos inquieta (se o tempo rouba em beleza o que devolve em bondade)”. Tornar a imaterialidade tangível.

Detectarmos os tempos dum quase-fim, apocalíptico, com um toque de ironia, sem nos afastarmos da seriedade dos acontecimentos mundanos. “Ali vai a ela (a bomba) a caminho da explosão. Um prodígio da aeronáutica. Vê-se que vai com vontade [...] a correr bem espalhará uma magnífica explosão. [...] é uma bomba obediente. Não vai para ali a cismar com as vilas que arrasará (as pontes que irá derruir) crianças sem vida e sem tecto”.

E também se fala da má sorte do amor, desabrigado e perdido algures. “O amor quer assentar mas não tem casa [...] arrasta-se por quartos [...] onde o amor pode ser provisoriamente amor [...] só não lhe falta o nome”.

Que nesta época a claridade venha de dentro e o nome amor faça casa nas gentes pelos dias corridos.»


§